sábado, 24 de novembro de 2012

sigo queriendo


Sonhei que a gente ficava outra vez. Sonhei que você segurava minha cabeça entre as mãos e beijava minha testa. Sonhei que dormia no teu peito, que me aninhava no teu colo, que fazia de ti travesseiro. Sonhei que teu abraço me envolvia, que eu fechava os olhos, que a gente permanecia assim um no outro. Sonhei que acordava contigo do meu lado, que a gente divagava durante horas na cama, cobertos, fofinhos, quentinhos. Sonhei que esse dia era interminável, que a gente não tinha fome, mau hálito ou vontade de ir ao banheiro. Sonhei que você gostava de mim o suficiente pra querer fazer isso tudo comigo de novo. E percebi que, no sonho ou não, essa história é balela da minha parte. Percebi que não queria mais ninguém, que era tudo atuação da consciência em busca de distração. E quanto mais eu percebia, mais eu desesperava. Não quero, de novo, ter que dar explicações de coisas que não tenho. Não quero ter que responder por você se nem por mim eu sei dizer. Mas aí aprisionei isso tudo no sonho. Guardei, escrevi, não publiquei, trancafiei, selei e não mandei. Por enquanto eu não preciso contar pra ninguém, eu preciso é descobrir comigo mesma o que fazer - ou o que não fazer. Seria tão mais fácil se você gostasse também de mim :~) O que a gente precisa falar pra pessoa saber que a gente é dela?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

palavras dos outros: soneto da mulher ideal

"Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade

Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão"


(Vinicius de Moraes)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

palavras dos outros: nozes

"ela: sua persona online era fofa e romântica e sonhadora mas, na vida offline, era cínica, não acreditava no amor, não queria compromisso.

ele: sua persona online era irascível e mordaz e rabugenta mas, na vida offline, era meigo, doce, queria colo.

se amaram."

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

6 coisas aleatórias que vou fazer assim que acabar o semestre




1) visitar minha vó

2) comprar plantas novas e fazer uma floreira com ervas.

3) consertar as poltronas lá de casa

4) fazer tatuagens e piercing

5) ler os livros comprados e não-lidos na praia

6) ir no[s] médico[s]

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Ela


Minha mãe sempre foi pra mim, frágil como um passarinho. Eu sempre olhava ela de longe, observava e sentia toda uma delicadeza e fragilidade, uma carência e necessidade de amor de todos os lados. Ela tem as mãos quentes, ela tem um abraço machucado. Sempre vi ela como uma pessoa pra eu cuidar, mais que ser cuidada por ela. Parecia que eu tinha nascido a mãe e que ela precisava de cuidado.

Minha mãe também sempre foi forte. Ela trabalhou duro, sofreu quieta, cuidou das duas filhas, voltou a morar com os pais, fez dar tripas coração, matou cachorro a grito, fez o que podia e não podia pra dar escola boa, sapatos novos, comida, carinho e amor pras duas filhas. Meu pai sempre falava que não sabia nem entendia como minha mãe conseguia fazer o que fazia. Nem eu.

Sempre quis pegar esse passarinho caído do ninho pra cuidar, mas nunca soube como. Sempre quis falar que ela nunca mereceu toda a dor que sentiu, mas nunca soube como. Sempre quis me desculpar pelas coisas mais absurdas e idiotas que a gente faz, mas nunca soube como. Se tem uma coisa que dói em mim é a falta que ela me faz.

Minha mãe cantava pela casa. Foi ela que me fez gostar da Gal, da Bethânia, da Adriana Calcanhoto, da Marisa Monte. Foi ela e a estante de livros de arte dela que me fez devorar e ler sobre Van Gogh, Picasso, Matisse, Frida Kahlo, Tarsila, Volpi. Foi ela que me fez ter vontade de sair da inércia, de trabalhar duro e muito, de querer desde sempre coisas melhores.

Minha mãe sempre foi linda, mas se encolhia na tristeza, dava pra ver. Hoje - e faz algum tempo já - minha mãe é feliz e muito mais linda. Não sei, mas imagino que ela continua cantando pela casa. Que ela continua preparando o café da manhã com frutinhas e iogurte. Que ela continua tomando chimarrão o dia inteiro. Que ela faz pausas pra se alongar de um jeito todo elegante. Que ela passa perfume antes de ir dormir. Tem vezes que eu só queria um abraço. Um colo, que ela fizesse massagem no braço com as mãos quentes. Minha mãe sempre foi pra mim muito do que quero ser.

(escrito no meio de lágrimas, fungadas e olhos borrados de saudades)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

palavras dos outros: medo de você

"— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

(Rita Apoena)

sábado, 3 de novembro de 2012

o problema dela é que ela gostava demais

 O problema dela é que ela gostava demais. Ela gosta demais dele, dela, deles, das pessoas, dos que tratavam bem, dos que tratavam mal, dos que ignoravam, dos que eram importante, dos que nem mereciam tanto assim, dos pseudo-conhecidos, dos pequenos, dos grandes, dos incertos, dos motivos de conforto, das tormentas, da taquicardia e do desespero. Ela gostava demais e, pra não transbordar, usava em altas doses seu amor nos outros. Na verdade, ela drenava o sentimento porque não sabia muito bem como lidar com ele. Ela não sabia se ela gostava mesmo, se ela insistia na possibilidade de dar errado pra fugir da que poderia dar certo ou se não era nada disso. E por gostar demais, ela assustava. Não dava pra acreditar, era de se desconfiar como que alguém gosta tanto assim, tão fácil assim? Onde estão os bloqueios e as amarras? As hesitações e as incertezas? As dúvidas e as lamúrias? O problema dela é que ela gostava demais e, por gostar demais, ela se envolvia demais. Ela precisava de freios pra parar os próprios gostares. Ela precisava respirar fundo pra não se tornar uma tormenta, um desassossego, uma imposição. O problema dela era que ela gostava demais e, por gostar demais, ela não sabia o que fazer quando gostavam dela. Ela só sabia se meter em relações unilaterais, onde todo o gostar viesse só dela, porque ela o tinha de sobra. Toda vez que alguém enchia ela de gostar, ela sufocava, engasgava, transbordava. O problema dela é que ela gosta demais.