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terça-feira, 18 de novembro de 2014

sobre a independência



A independência também é uma ilusão e um fardo. Nunca seremos totalmente independentes porque sempre estaremos acorrentados às pessoas que nos fazem bem e que precisamos ao nosso lado ou à empresa que paga o salário no final do mês ou ainda de alguém que produz o que a gente veste, come, vê, ouve, assiste.

A independência que a gente tenta tanto alcançar é, na verdade, uma tentativa de poder tomar as próprias decisões e pagar por elas com a consciência ou com o salário, sem que dependamos de quem nos dá alguma coisa e quer ver aquilo com algum fim. É poder escolher se você quer ser vegetariano, se você vai dormir cedo ou tarde, se o filme vai ter pipoca ou não. Mas também é poder escolher fugir dos problemas e de pessoas, se reconectar em outras e mover o barco para outros portos.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobre ser adulto


Quando eu era criança e queria mais que tudo ser adulta e independente, achava que ser adulto era ter menos medos, saber das coisas e depender de ninguém. Hoje, que sou adulta empregada faço parte dessa roda incrível do capitalismo limpo a casa e sei tirar manchas de roupas, sei que ser adulto não é isso. Ser adulto é acumular. Acumulam-se tristezas, frustrações, pensamentos, dívidas, calças jeans, plantas, ex-namorados, ex-amigos, livros emprestados e nunca devolvidos, rugas e cabelos brancos. Ser adulto é parecer saber responder mais rápido, mas na verdade demorar mais para achar no emaranhado de novelos de lã do nosso cérebro as respostas.

Infelizmente ou felizmente, a gente ocupa nossa pequena caixa cerebral a cada dia que passa com tudo, tudinho que fazemos (salvam-se apenas lapsos causados pela nossa querida vodka ou pela amada tequila e memórias que escolhemos por melhor esquecer sem ter certeza se um dia a gente vai precisar). A gente joga tudo na lixeira, mas a lixeira nunca esvazia. Ser adulto não é se livrar dos medos, como meu eu criança pensava, muito pelo contrário. É acumular medos, fundi-los, cozinhá-los bem em fogo baixo e banho maria por umas duas vidas inteiras e mais seis meses.

Por isso que ser adulto dói as costas. Porque a gente carrega muita coisa que não se desprende de jeito nenhum. Dói porque pesa demais mesmo e nossa mochila não está respondendo pelo projeto de lei 66/2012 que permite que as mochilas tenham no máximo 10% do nosso peso. Ninguém consegue se livrar das bagagens da vida. Suspeito que como adulta recente eu ainda não tenha aprendido a dissolver alguns nós e passar a limpo algumas histórias que com o tempo tendem a ficar mais leves. Talvez não seja todo mundo mesmo que consiga resolver e diminuir o peso de viver, por isso que temos os terapeutas e os tumores malignos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Pessoas de humores difíceis

Existem pessoas de humores mais fáceis. Pessoas que riem de tudo, que acham graça nas mais bestas inclinações de espírito. Pessoas que riem da desgraça alheia, da dor do outro, das coisas engraçadas, dos vícios, das diferenças, da segregação e do preconceito, do possível e do impossível, do que não deu certo e do que deu também. Elas caem na gargalhada por qualquer motivo hilariante e acham as piadas do tio do churrasco tão engraçadas quanto as piadas de um comediante profissional. Elas riem de tudo, tudo mesmo. Elas até sabem rir de si. Elas acham graça na vida e em uma porção de combinações de fatos que nem sempre seriam motivo de graça. Elas riem porque é fácil e "a vida já é muito difícil".

Existem humores mais difíceis também. Pessoas que não riem de tudo. Elas não sabem rir de tudo. Elas acham preconceituoso, de mal gosto, moralista, mal-educado, irritante. Elas simplesmente não entendem onde mora a graça. Onde está o motivo pra rir? Elas só acham graça se for realmente engraçado. Isso na visão torpe delas, claro. 
 
Essas pessoas têm um buraco preenchido de outros tipos de reações e sentimentos. Simples. Se é triste, elas podem chorar. Se é doloroso, elas sentem dor. Se for engraçado, mas apenas se for mais engraçado que qualquer outra coisa, elas acharão graça. Não que os outros não tenham variados sentimentos, mas eles preferem achar graça de tudo. É mais fácil. Não é?



segunda-feira, 11 de março de 2013

sobre a normalidade


Passo o tempo todo conhecendo pessoas diferentes, escutando histórias, aprendendo detalhes da vida dos amigos. Parando para pensar, deve ser o meu único e maior passatempo. Eu gosto de pessoas, gosto de ver no fundo dos olhos suas vontades. Outro dia conheci um moço que só de estar do meu lado emanava tristeza. E nem era por estar do meu lado, eram várias outras coisas que, com certeza, ele não me contou. Eu não preciso saber o que para saber que houve.

Parei para pensar em todas as pessoas que eu conheço e não lembro de nenhuma ser normal. Não é porque eu me relaciono só com estranhos, é porque não existe tal coisa chamada de normalidade. Todas as pessoas que eu conheço sofreram e tiveram algum trauma na vida. Faltou um pai, uma mãe, foi a descoberta da homossexualidade, falta de amor, excesso de zelo, um coração partido ou sobrecarregamento de responsabilidades. Todo mundo que eu conheço tem dificuldade em fazer algumas coisas por um medo intrínseco, inconsciente e sem sentido. Todas as pessoas, inclusive eu.

A normalidade é outro conceito criado para nos fazer viver o tempo todo em busca de ideais utópicos. É o combustível para uma vidinha conformada e medíocre, sem verdadeiros prazeres, experimentos ou buscas. É com ela que dizem que conseguimos a paz, o amor e a felicidade. Para mim, a normalidade é a estagnação, é a falta de movimento. A paz e a felicidade vem quando a gente encontra o equilíbrio, mas não é preciso parar para isso.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

sobre (não) ter controle

As coisas mais bonitas que acontecem na nossa vida são as coisas que não conseguimos controlar. A gente escolhe com quem casar, mas não escolhe por quem se apaixonar. A gente escolhe ter um filho, mas não escolhe como ele vai ser. A gente escolhe dormir, mas não escolhe sobre o que sonhar.

O que dói é que a gente, justamente, não tem controle. A gente queria escolher a pessoa certa, o filho perfeito, o sonho mais bonito. Mas a vida não é assim. O que dói é que a gente também não escolhe se desapaixonar. Vê, eu não escolhi aquelas lágrimas baixinhas que caíram no meu rosto ainda pouco. Também não escolhi gostar de quem não gosta de mim. Eu escolhi te esquecer, mas não escolhi tua presença nos meus sonhos.

A gente destrói e constrói sorrisos e lágrimas todos os dias, com cheiro de alegria, com uma pitada de verdade ou com raiva e dessentimentos. Tem dias que as coisas só crescem, outros que elas só desmoronam. A gente não consegue controlar nada, e essa incerteza é que deixa tudo mais bonito. Essa beira do abismo, esse medo de altura, é tudo incerto, amorfo, inesperado.


"feel it break"

domingo, 23 de setembro de 2012

sobre escolhas e renúncias

"A vida é feita de escolhas" diz o clichê. E é mesmo, de escolhas e renúncias. Eu gosto muito do filme Diabo Veste Prada por vários motivos e um deles é como a personagem Andy, da Anne Hathaway, passa o filme inteiro repetindo "I didn't have a choice!" Ela usa essa frase como justificativa pelo atraso, falta ou ausência nas vidas de seus amigos e seu namorado desde que começou seu novo trabalho. Em um ponto do filme, seu namorado diz que sim, ela tinha escolha. Ela poderia simplesmente ter dito não à chefe, ter largado o emprego. Mas ela escolheu continuar. Ela escolheu o trabalho e isso significou renunciar alguns relacionamentos pessoais. Normal, digamos. Mas chega em um ponto que ela percebe que prefere seu namorado e seus amigos ao trabalho. E então ela escolhe eles e sai do trabalho. Simples, pero no es fácil.

É óbvio que a vida é feita de escolhas. Você escolhe o xampu que vai usar, o que vai comer no almoço, o curso que vai fazer na faculdade, se vai ou não fazer faculdade, se quer namorar ou não, se vai fumar naquela festa, se é mais importante pra ti ser a menina mais linda da cidade ou se vale a pena dormir 8h por dia. Muita coisa, a gente nem percebe que ou porque escolheu; muita coisa é consciente, muitas outras, inconscientes. E tudo tem consequência nessa vida. Mas veja bem: consequência não é castigo, é resultado. Eu escolhi fazer duas graduações, ter três frilas fixos, morar sozinha e estagiar. Resultado? Tô cansada e tenho tendinite. Renúncias? Ter tempo livre, poder sair sempre, ficar o final de semana inteiro olhando pro teto.

O que me importa é avaliar os resultados das minhas escolhas e pensar sobre o que estou renunciando. Se eu tô satisfeita com as escolhas que fiz? Estou. Se eu sei o que e quem estou renunciando a cada escolha que faço? Sim, eu sei. A propósito: eu tô é bem feliz. Cansada, mas feliz. Se vai valer a pena? Como é que eu ou você vamos saber?

"Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição"


 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

sobre a liberdade


Salão de beleza, média de idade das senhoras no local é de 50 anos, barulhos dos secadores de cabelo, cheiro típico de tintura, esmalte e finalizadores, o blablabla das senhoras de bobes na cabeça e uma pilha de revistas pra se ler enquanto espera. Sempre esqueço de levar algo pra me distrair e nunca quero ler nenhuma das revistas. Tenho preguiça. Tomei coragem, respirei fundo e peguei a Lola com umas chamadas interessantinhas. Deu certo. Na entrevista do Contardo Calligaris da Lola, fevereiro de 2011 (e que eu não achei online), ele falava sobre várias coisas. Relações, tristeza, liberdade. Li uma coisa que ficou ali, batucando minha cabeça: "a liberdade é um fardo".

Coloquei isso dentro da minha vida. A gente passa a infância querendo ser adultos. Pra quê? Pra ser livre, pra fazer o que a gente quiser - e a gente fala isso aos brados, estufando o peito. Mas aí a gente começa a crescer, começa a ser adulto, a ter contra pra pagar, filhos pra criar, xampu anti-caspa... e percebe que não é assim. Quanto mais livre somos, mais preso ficamos. Não existe a liberdade, existe a falsa noção da liberdade. Porque, quando somos livres, nos acorrentamos à liberdade.

Pra mim, a liberdade é uma utopia. Não digamos que seja ruim, então, mas é algo inalcançável. Como o Eduardo Galeano diz no vídeo abaixo (5:40), a utopia está no horizonte. Se você caminhar 10 passos, ela estará 10 passos a frente. Se caminhar 20, ela estará 20 passos a frente. Então, pra que serve a utopia? Pra isso: pra caminhar.



Por isso, pra mim, a gente passa a vida toda querendo estar onde não estamos: no ontem ou no amanhã. A gente só não pode esquecer que estamos no hoje.