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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

sou um livro

sou um livro.
gosto de páginas esbeltas,
palavras bem escritas,
parágrafos bem costurados,
linhas em branco pra preencher.

na edição de luxo tenho sobrecapa,
pantone especial,
costura colorida.

na edição comercial,
meu papel pólen é 75g/m3,
só uma cor,
nada de sobrecapa.

tudo o que gosto está em um livro bom:
página, palavra e espaço.

página pra ver e tocar, palavra pra ler e imaginar, espaço pra deixar preencher.

um livro e uma música

eu gosto muito de ler. talvez seja uma das coisas que eu mais goste de fazer. eu gosto dessa puxada que o livro nos dá prum espaço-tempo que não faz sentido algum com o que a gente realmente está. desse mergulho que a gente esquece até que tem que descer no próximo ponto e levanta atrapalhada, derrubando a sacola e pedindo licença no último minuto. e eu ainda tenho uma mania desgraçada que é de juntar o livro quase sempre com uma música ou álbum. depois de acabar o livro, quando tento ouvir a música só pela música não consigo, ficam os personagens dançando ali na frente, bagunçando todo o sentido original da música.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

minha sina é viver esperando

Minha sina é viver esperando. Esperando o onibus passar, a hora chegar, seu nome chamar, a hora de acordar, o onibus passar. Esperando ser feliz, ter equilíbrio, ser maduro e responsável, os pontos cicatrizarem, a dor que não passa. Esperando a prestação chegar, o salário cair, o dinheiro acumular, as férias, poder viajar.
Esperando pra viver mais hoje, para ser mais agora, e ter mais presente. Esperando o momento certo chegar, a certeza chegar, o filho chegar, o marido chegar, os netos chegarem. Esperando pra terminar de ler, pra ver todos os filmes, pra série nova estrear. Esperando.
Esperando que amanhã seja melhor e que um dia tudo isso passe e sejamos recompensados. Esperando a luz voltar, a internet conectar, o congelador descongelar. Esperando os filhos crescerem, o marido adoecer, a saúde findar. Esperando o dia feliz, o momento recompensador. Sinto que vou morrer a vida esperando. Sinto que vou viver a vida caminhando.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Pessoas de humores difíceis

Existem pessoas de humores mais fáceis. Pessoas que riem de tudo, que acham graça nas mais bestas inclinações de espírito. Pessoas que riem da desgraça alheia, da dor do outro, das coisas engraçadas, dos vícios, das diferenças, da segregação e do preconceito, do possível e do impossível, do que não deu certo e do que deu também. Elas caem na gargalhada por qualquer motivo hilariante e acham as piadas do tio do churrasco tão engraçadas quanto as piadas de um comediante profissional. Elas riem de tudo, tudo mesmo. Elas até sabem rir de si. Elas acham graça na vida e em uma porção de combinações de fatos que nem sempre seriam motivo de graça. Elas riem porque é fácil e "a vida já é muito difícil".

Existem humores mais difíceis também. Pessoas que não riem de tudo. Elas não sabem rir de tudo. Elas acham preconceituoso, de mal gosto, moralista, mal-educado, irritante. Elas simplesmente não entendem onde mora a graça. Onde está o motivo pra rir? Elas só acham graça se for realmente engraçado. Isso na visão torpe delas, claro. 
 
Essas pessoas têm um buraco preenchido de outros tipos de reações e sentimentos. Simples. Se é triste, elas podem chorar. Se é doloroso, elas sentem dor. Se for engraçado, mas apenas se for mais engraçado que qualquer outra coisa, elas acharão graça. Não que os outros não tenham variados sentimentos, mas eles preferem achar graça de tudo. É mais fácil. Não é?



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

das coisas que a gente têm


A diferença absurda entre o tipo de trabalho que eu mais gosto (em suporte, cores, tipografias e finalidade) com o que eu realmente tenho feito tem me deixado inquieta. Não é (só) uma questão de estilo, é de crise de identidade mesmo. Porque de vez em quando a gente se perde e precisa se redescobrir, se remontar, se achar. E nesses processos eu fiquei na dúvida do quanto eu poderia ir pra frente e acabei ficando pra trás. Difícil é perceber que a culpa mesmo, foi minha. E depois de um ano de ré e um ano pra re-engatar o fluxo, acho que os traumas e processos estão se refazendo.

Outro dia eu abri meu guarda-roupas e vi lá 6 ou 7 calças jeans. Na mesmíssima hora eu lembrei que quando eu tinha uns 10 anos, uma das coisas que eu queria era ter 6 ou 7 calças jeans. A distância entre o que eu queria há 10 anos para tudo o que eu tenho hoje não existe mais: eu tenho tudo o que eu queria ter. Tenho uma gata, moro sozinha, trabalho, tô terminando a faculdade, as pessoas elogiam meu trabalho, tenho os amigos dos sorrisos mais lindos, o namorado mais lindo do mundo, conheço pessoas que gostam das mesmas esquisitices que eu, uso óculos, trabalho num lugar que gosto e ponto.

Qual o meu problema? Justamente: não ter problema nenhum. Preciso listar os próximos objetivos pros próximos 10 anos da minha vida, senão enlouqueço. Já coloquei morar no Centro, comprar um apartamento, perder o medo de andar de bicicleta, mas mais do que isso parece tão longe. A vida é assim, um eterno querer do que não se tem, uma eterna saudades do daqui a pouco e do que acabou de passar.

sábado, 14 de setembro de 2013

redemoinho

claustrofóbica de mim mesma,
sufocada dentro e fora de mim.

presa nos piores disparates de cristal,
nas melhores boas vontades de muniz,
me sinto assim,
como se tivesse enrolada em fita durex.

colada,
presa,
angustiada,
incômoda.

soltar significa grudar
e quanto mais eu solto,
mais eu me grudo
em mim.

a dificuldade maior é saber se grudo
solto
continuo
sufoco
respiro
ou nada faço.

terça-feira, 4 de junho de 2013

todo dia ela faz tudo sempre igual


café arruma cama limpa a caixinha dá comida e troca a água da Nina almoça lava louça café trabalha até dizer chega tem dias que tem bolinho tem dias que lava roupa tem dias que tem naninha depois do almoço tem dias que tem que dividir o travesseiro tem dias que molha as plantas checa emails confere as postagens tira foto abre a janela pro vento entrar e quem sabe um solzinho cozinha faz café chá e toma água toma banho fica de preguiça na cama demora pra levantar afofa a Nina faz bagunça precisa se arrumar todo dia ela faz tudo sempre igual mas todo dia é diferente.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

6 tipos aleatórios de limpeza de espírito

1. dar unfollow no twitter.

2. deletar os pseudo-conhecidos do facebook.

3. doar as roupas que você não usa mais.

4. descongelar a geladeira.

5. excluir e reorganizar todo o desktop.

6. escovar os dentes.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

6 coisas aleatórias que a gente se acostuma muito rápido



1. Trabalhar de pantufas.

2. Acordar acompanhado.

3. Ter tempo para tomar café-da-manhã.

4. Não ter que dar satisfações a ninguém.

5. Usar um computador, celular ou o que seja mais potente que o normal.

6. Não ter que pegar trânsito para se locomover.

domingo, 24 de março de 2013

palavras dos outros: tílburi de praça, raul pompéia


"- Meu senhor, o coração dessa mulher é uma coisa complicada. Não se pode estudar e definir de uma só maneira, mas, no ponto da sua consulta, eu creio que não erra, com esta exposição da minha experiência. Há corações fechados que são como portas de que se perde a chave. Ninguém lhes entra, sem que um milagre da sorte ensine como. Então, é a imensa ventura. Há corações de uma só porta, como as casas seguras, onde a gente entra, sem custa, instala-se, faz família dentro, e aí chega a netos tranquilamente. Há corações de duas portas, que dão entrada a um afeto pela frente, diante da indiscreção da Candinha e seus filhos. O segrêdo dêstes amôres de acôrdo é possível, mas às vêzes, mesmo em segrêdo êles são felizes. Há corações hotéis, onde todo mundo entra, escandalosamente, quase simultâneamente, pagando à parte seu cômodo, sem grande intriga, nem ciúmes. Há corações bodegas, que é um horror... Mas há uma espécie curiosa de coração, um produto das sociedades desenvolvidas, para a qual lhe chamo a atenção – é o coração volante, o coração rodante, que aceita amor, mas que não fixa, daqui para ali, a tanto por hora, a tanto por mês, o coração tílburi de praça, que aceita o passageiro em qualquer canto, que dobra esquina, que corre, que pára, que vem, que desaparece, que passa pela gente, às vêzes, juntinho, sem que se possa ver quem vai dentro..."

do livro Maravilhas do Conto Brasileiro.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

6 sinais aleatórios de que já somos adultos


1. preferir acordar cedo.

2. colocar contas em débito automático.

3. "férias" se resumir a uma semaninha nos dias entre natal e ano-novo.

4. tomar café sem açúcar.

5. o extrato bancário ter mais de uma página.

6. carteira com espaço pra mais de 4 cartões.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

tormenta e calmaria

Ela era calmaria. Ela confortava, afagava, amava. Ela dizia o que precisava ser ouvido, estendia a mão do carinho quando vinha a grosseria. Ela botava panos quentes nos gestos frios. Ela lapidava as pontas que habitavam seu peito. Ela não sentia ciúmes, ódio, raiva. Ela desaparecia no meio da multidão. Ela só falava o necessário, para não incomodar. Ela não incomodava, não abalava. Ela era motivo de preocupação, de diminutivos, de abraços sem tesão. Ela era menina e mãe. As mãos na cabeça eram para fazer dormir. O abraço era para confortar o desconforto. O sorriso era para dar confiança. As palavras eram para encorajar. Ela estava disponível, acessível, de coração e sorriso abertos, pronta para fechar os braços ao redor dos seus ombros, pronta para aquecer aquele vazio.

Ela queria ser também tormenta. Ela queria desequilibrar a estabilidade que ela própria causava. Ela queria causar raiva, gargalhada, choro, ódio. Ela queria tempestuar. Ela queria fazer a perna tremer. Ela queria fazer virar do avesso as certezas guardadas na gaveta. Ela queria bagunçar, confundir, atormentar. Ela queria ter ciúmes, ter raiva. Ela queria excitar, provocar. Ela queria ser mulher. Ela queria tocar e desencadear taquicardia. Ela queria que seus movimentos fossem impetuosos, dilacerantes, viscerais. Ela queria tirar tudo da órbita.

Ela queria ser o que eram para ela. Ela queria que quisessem que ela fosse o que ela queria ser.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

palavras dos outros: soneto da mulher ideal

"Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade

Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão"


(Vinicius de Moraes)

sábado, 3 de novembro de 2012

o problema dela é que ela gostava demais

 O problema dela é que ela gostava demais. Ela gosta demais dele, dela, deles, das pessoas, dos que tratavam bem, dos que tratavam mal, dos que ignoravam, dos que eram importante, dos que nem mereciam tanto assim, dos pseudo-conhecidos, dos pequenos, dos grandes, dos incertos, dos motivos de conforto, das tormentas, da taquicardia e do desespero. Ela gostava demais e, pra não transbordar, usava em altas doses seu amor nos outros. Na verdade, ela drenava o sentimento porque não sabia muito bem como lidar com ele. Ela não sabia se ela gostava mesmo, se ela insistia na possibilidade de dar errado pra fugir da que poderia dar certo ou se não era nada disso. E por gostar demais, ela assustava. Não dava pra acreditar, era de se desconfiar como que alguém gosta tanto assim, tão fácil assim? Onde estão os bloqueios e as amarras? As hesitações e as incertezas? As dúvidas e as lamúrias? O problema dela é que ela gostava demais e, por gostar demais, ela se envolvia demais. Ela precisava de freios pra parar os próprios gostares. Ela precisava respirar fundo pra não se tornar uma tormenta, um desassossego, uma imposição. O problema dela era que ela gostava demais e, por gostar demais, ela não sabia o que fazer quando gostavam dela. Ela só sabia se meter em relações unilaterais, onde todo o gostar viesse só dela, porque ela o tinha de sobra. Toda vez que alguém enchia ela de gostar, ela sufocava, engasgava, transbordava. O problema dela é que ela gosta demais.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

palavras dos outros: Deleuze sobre a fidelidade (ou amizade, ou amor)

"A amizade. Por que se é amigo de alguém? Para mim, é uma questão de percepção. É o fato de... Não o fato de ter idéias em comum. O que quer dizer “ter coisas em comum com alguém”? Vou dizer banalidades, mas é se entender sem precisar explicar. Não é a partir de idéias em comum, mas de uma linguagem em comum, ou de uma pré- linguagem em comum. Há pessoas sobre as quais posso afirmar que não entendo nada do que dizem, mesmo coisas simples como: “Passe-me o sal”. Não consigo entender. E há pessoas que me falam de um assunto totalmente abstrato, sobre o qual posso não concordar, mas entendo tudo o que dizem. Quer dizer que tenho algo a dizer-lhes e elas a mim. E não é pela comunhão de idéias. Há um mistério aí. Há uma base indeterminada... É verdade que há um grande mistério no fato de se ter algo a dizer a alguém, de se entender mesmo sem comunhão de idéias, sem que se precise estar sempre voltando ao assunto. Tenho uma hipótese: cada um de nós está apto a entender um determinado tipo de charme. Ninguém consegue entender todos os tipos ao mesmo tempo. Há uma percepção do charme. Quando falo de charme não quero supor absolutamente nada de homossexualidade dentro da amizade. Nada disso. Mas um gesto, um pensamento de alguém, mesmo antes que este seja significante, um pudor de alguém são fontes de charme que têm tanto a ver com a vida, que vão até as raízes vitais que é assim que se torna amigo de alguém. Vejamos o exemplo de frases! Há frases que só podem ser ditas se a pessoa que as diz for muito vulgar ou abjeta. Seria preciso pensar em exemplos e não temos tempo. Mas cada um de nós, ao ouvir uma frase deste nível, pensa: “O que acabei de ouvir? Que imundicie é essa?” Não pense que pode soltar uma frase destas e tentar voltar atrás, não dá mais. O contrário também vale para o charme. Há frases insignificantes que têm tanto charme e mostram tanta delicadeza que, imediatamente, você acha que aquela pessoa é sua, não no sentido de propriedade, mas é sua e você espera ser dela. Neste momento nasce a amizade. Há de fato uma questão de percepção. Perceber algo que lhe convém, que ensina, que abre e revela alguma coisa."



"As pessoas só têm charme em sua loucura, eis o que é difícil de ser entendido. O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão. Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não se pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não se captar o ponto de demência de alguém... Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme."

Já sei o que dizer quando me perguntarem de novo "por que você gosta dessa pessoa?!"

✖ O Abecedário de Gilles Deleuze, transcrito todinho. Pra baixar em pdf aqui. ✖

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

palavras dos outros: senhas

"Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem..."

Achei tão bonito :)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

palavras dos outros: las palabras feas más bonitas

 "Leí un libro en el que se decía que en una encuesta sobre las palabras más bonitas del español había resultado ganadora Cristal. Me quedé pensando si compartía o no esa elección. Hasta ese momento nunca había hecho una reflexión-elección de ese tipo con mi idioma. Al ser mi lengua materna y de uso cotidiano y normal nunca había reparado, en realidad, en su belleza estética. En el juego de la combinación de sus letras al ser pronunciadas más en unas que en otras. En separar concepto de estética. Entonces empecé a repetir: cristal... cristal... cristal... cris...tal... Y vi una nueva palabra. Y redescubrí mi lengua, mi idioma y su belleza. Adquirí verdadera conciencia de la vida propia de cada vocablo y de la vida que cobra en nuesta boca y nuestros labios cada vez que los pronunciamos. Unas con más gracia que otras, claro."

Luisa e Mac me passaram faz tempo já. Daqui.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

6 coisas aleatórias que sou rainha em


1) deixar comida estragar por esquecer de comer.

2) não ouvir o despertador.

3) me atrasar.

4) ler o email e esquecer de responder.

5) não entender ironia.

6) servir café, esquecer de tomar quando quente e tomar um gole frio.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

6 coisas aleatórias que você só pode perguntar UMA VEZ para mim


1) "seu nome é Cristal mesmo?" sim, é.

2) "quanto você tem de altura?" 1,81m.

3) "você joga basquete ou vôlei? por que não?" não, não gosto.

4) "o que tem pra fazer pra próxima aula?" sei o mesmo que você.

5) "seus pais eram hippies?" não.

6) "isso é mesmo uma tatuagem?" sim, tenho faz 5 anos.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

joyeux anniversaire!



1) Eu não deveria dizer isso que vou te dizer agora
A gente não deve dizer que está apaixonada pelo cara. Ele vai surtar e sumir, é o que sempre acontece. Eles não sabem lidar, acham mil coisas, tipo que eu não sei lidar com minha paixão, que vou ser uma louca perseguidora, que vou, ah, sei lá, eles acham todas as coisas. Por isso em geral a gente finge que não liga a mínima, se corrói toda por dentro, etc e tal. Acho e sempre achei um puta saco esse dôce todo. Porra, por que o cara que eu gosto não pode saber disso? Hoje um cara me perguntou "aquele cara que tava contigo é teu noivo?" e eu disse "não, mas poderia ser, que eu não ia me importar" e ele perguntou "mas ele sabe que você acha isso?". Não sei se ele sabe, então eu vou falar, pelo motivo 2 da lista:

2) A gente não deveria deixar de dizer as coisas
No começo do ano eu perdi um amigo de uma forma horrível. Ele morreu sozinho, mas matou também a parte dele dentro de todas as pessoas que gostavam dele, como sempre acontece. A gente não morre sozinho, na verdade. E eu percebi que eu não falava com ele fazia uma porrada de tempo, que tava com saudades e que, tragicamente, nunca ia matar essas saudades, elas que passariam a me matar um pouquinho todos os dias que eu lembrasse do sorriso mais lindo que eu já vi. Depois disso, depois de umas duas semanas de muito choro, muita tristeza e claro, pensamentos mil (ninguém consegue evitar quando essas coisas tão naturais acontecem perturbando a nossa normalidade), decidi que ia falar o que tivesse sentindo, sem medo. Quer dizer, ainda dá um pouco de medo de dizer certas coisas, mas o que não adianta é sofrer sozinha, se preocupar com o que você não pode controlar.

Se eu não gostar, você vai saber. Se eu gostar, vai saber. Se eu me preocupar, vou dizer. Se eu chorar, vou te dizer. Se eu sofrer, vou te dizer. Se der um nó no estômago, você vai notar. Não é fazer drama, chororô, cena, é ser sincera comigo – com o que eu tô realmente sentindo – e contigo – pra saber efetivamente se eu tô sentindo e o que. Quero ter a certeza de que quem eu gosto tenha certeza que eu realmente gosto e quem eu não me importo também saiba disso.

3) Eu não me importo
Eu não me importo de chorar, de sofrer, de sentir. Aliás, eu acho ótimo. Eu tô aqui pra viver, cazzo! Eu quero mais é me foder mesmo, é sentir frio na barriga, é incomodar, é fazer alguma coisa da vida pros outros, pra mim. Eu dou a cara a tapa se for preciso, eu entro na guerra, eu vou catar você pra cuidar, eu cozinho pros outros, ajudo, peço ajuda, me fodo e diabo a quatro. Se eu ficar controlando (mais) o que eu faço, vou parar aonde? Num vazio de sentimento? Eu nunca fui disso, nunca serei. Eu quero mais é chorar, sofrer, rir, gargalhar. Eu quero mais é me apaixonar pelo cara errado e dar com os burros n'água, gritar, dançar, rodar a baiana. Tô é pouco me fudendo. Não sou de plástico, eu tenho um coração e um cérebro. Quero mais é correr o risco. Correr o risco de me embebedar, de sorrir demais, de gastar demais, de me apaixonar, de odiar, de amar. Quero correr o risco de estar emocionalmente abalada. Eu lido com isso, a culpa não é de ninguém, é minha mesmo, que me permito. E me deixa, me deixa me permitir, que eu quero é sentir. Se eu não quisesse sentir, eu ia querer morrer.

4) Eu não ligo
"The less you give a damn, the happier you will be"
A gente demora pra perceber que quanto menos a gente gasta o suor se preocupando com o que não precisa, melhor a gente vive. É isso aí, se deu certo foi bom, se não deu, adeus. Tira a pedra de cima do problema, é mais fácil viver assim do que com as pedras em cima da gente, garanto. Deixar de frescura, se resolver, resolver as coisas... Não quero joguinho, acende e apaga, mimimi e escambau. Não sou dona da vida de ninguém, deixa que os outros façam o que quiserem. Aceito que é isso e deixo a vida levar. Claro que não aceito babaquice nem escrotice, mas também não preciso sair no tapa com alguém que não leva a sério nem a si mesmo, certo? Então ligue o foda-se, definitivamente. Para de dizer que ligou e stalkear o menino, para de fingir que não liga. Da minha vida cuido eu, da sua vida cuida você.

5) A graça é justamente isso
O que eu gosto é de saber que, mesmo que eu me engane, a gente não tem controle de nada. E é esse frio na barriga que é a graça de estar aqui. É justamente não saber o que pode acontecer, se vou ou não vou, o que vem pela frente – ou se vou voltar atrás. É justamente essa suscetibilidade da gente que faz de tudo bonito. Essa fragilidade faz eu querer quebrar mesmo, pra saber como é. Faz eu saber que tô feliz fazendo o que eu quero. E sei lá se eu vou continuar querendo isso daqui uns anos, eu tô vivendo o agora e agora, eu quero isso sim. Cabelo cresce, coração se recupera, o fígado se regenera. Tudo fica bem. Se vai ser bom ou não, nem tenho como e nem quero medir. Deixa quieto, o tempo vai dizer. A gente nunca vai saber se escolher o outro lado poderia ter feito da felicidade maior ou melhor. A gente nunca, nunca, vai saber tudo. E isso é muito, mas muito bom.

Hoje eu faço 21 anos e tô onde eu queria estar. Com as coisas que eu queria ter. Com o sentimento que eu queria sentir. E isso não há dinheiro que pague, não há colo que resolva, não há música que salve. Era aqui mesmo que eu queria estar. Então tá tudo certo. Vem cá, me dá um abraço e vamos beber?