quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobre ser adulto


Quando eu era criança e queria mais que tudo ser adulta e independente, achava que ser adulto era ter menos medos, saber das coisas e depender de ninguém. Hoje, que sou adulta empregada faço parte dessa roda incrível do capitalismo limpo a casa e sei tirar manchas de roupas, sei que ser adulto não é isso. Ser adulto é acumular. Acumulam-se tristezas, frustrações, pensamentos, dívidas, calças jeans, plantas, ex-namorados, ex-amigos, livros emprestados e nunca devolvidos, rugas e cabelos brancos. Ser adulto é parecer saber responder mais rápido, mas na verdade demorar mais para achar no emaranhado de novelos de lã do nosso cérebro as respostas.

Infelizmente ou felizmente, a gente ocupa nossa pequena caixa cerebral a cada dia que passa com tudo, tudinho que fazemos (salvam-se apenas lapsos causados pela nossa querida vodka ou pela amada tequila e memórias que escolhemos por melhor esquecer sem ter certeza se um dia a gente vai precisar). A gente joga tudo na lixeira, mas a lixeira nunca esvazia. Ser adulto não é se livrar dos medos, como meu eu criança pensava, muito pelo contrário. É acumular medos, fundi-los, cozinhá-los bem em fogo baixo e banho maria por umas duas vidas inteiras e mais seis meses.

Por isso que ser adulto dói as costas. Porque a gente carrega muita coisa que não se desprende de jeito nenhum. Dói porque pesa demais mesmo e nossa mochila não está respondendo pelo projeto de lei 66/2012 que permite que as mochilas tenham no máximo 10% do nosso peso. Ninguém consegue se livrar das bagagens da vida. Suspeito que como adulta recente eu ainda não tenha aprendido a dissolver alguns nós e passar a limpo algumas histórias que com o tempo tendem a ficar mais leves. Talvez não seja todo mundo mesmo que consiga resolver e diminuir o peso de viver, por isso que temos os terapeutas e os tumores malignos.