sábado, 22 de agosto de 2009

Est[r]ela


Abri, sem querer mais do que um bom motivo para ler, Iaiá Garcia. Segue-se a página 49, que, como sempre, Joaquim Maria conseguiu meter-se em minha vida.

"No meio de semelhante situação, que sentia ou que pensava Estela? Estela amava-o. No instante que descobriu êsse sentimento em si mesma, pareceu-lhe que o futuro se lhe rasgava largo e luminoso; mas foi só nesse instante. Tão depressa descobriu o sentimento, como tratou de o estrangular ou dissimular, - trancá-lo ao menos no mais escuso do coração, como se fôra uma vergonha ou um pecado.

- Nunca! jurou ela a si mesma.

Estela era o vivo contraste do pai, tinha a alma acima do destino. Era orgulhosa, tão orgulhosa que chegava a fazer da inferioridade uma auréola; mas o orgulho não lhe derivava de inveja impotente ou de estéril ambição; era uma fôrça, não um vício, - era o seu broquel de diamantes, - o que a preservava do mal, como o anjo do Tasso defendia as cidades castas e santas. Foi êsse sentimento que lhe fechou os ouvidos às sugestões do outro. Simples agregada ou protegida, não se julgava com direito a sonhar outra posição superior ou independente; e dado que fôsse possível obtê-la, é lícito afirmar que recusara, porque a seus olhos seria um favor, e a sua taça de gratidão estava cheia. (...)"

Nenhum comentário: