Ela era calmaria. Ela confortava, afagava, amava. Ela dizia o que precisava ser ouvido, estendia a mão do carinho quando vinha a grosseria. Ela botava panos quentes nos gestos frios. Ela lapidava as pontas que habitavam seu peito. Ela não sentia ciúmes, ódio, raiva. Ela desaparecia no meio da multidão. Ela só falava o necessário, para não incomodar. Ela não incomodava, não abalava. Ela era motivo de preocupação, de diminutivos, de abraços sem tesão. Ela era menina e mãe. As mãos na cabeça eram para fazer dormir. O abraço era para confortar o desconforto. O sorriso era para dar confiança. As palavras eram para encorajar. Ela estava disponível, acessível, de coração e sorriso abertos, pronta para fechar os braços ao redor dos seus ombros, pronta para aquecer aquele vazio.
Ela queria ser também tormenta. Ela queria desequilibrar a estabilidade que ela própria causava. Ela queria causar raiva, gargalhada, choro, ódio. Ela queria tempestuar. Ela queria fazer a perna tremer. Ela queria fazer virar do avesso as certezas guardadas na gaveta. Ela queria bagunçar, confundir, atormentar. Ela queria ter ciúmes, ter raiva. Ela queria excitar, provocar. Ela queria ser mulher. Ela queria tocar e desencadear taquicardia. Ela queria que seus movimentos fossem impetuosos, dilacerantes, viscerais. Ela queria tirar tudo da órbita.
Ela queria ser o que eram para ela. Ela queria que quisessem que ela fosse o que ela queria ser.
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