domingo, 20 de janeiro de 2008

"O Cheiro do Mar" - 11/01/07

"O mar cheirava como uma vela inflada, dentro da qual água, sal e sol frio estivessem presos. Cheirava simples o mar, mas ao mesmo tempo cheirava grandioso e único, de tal modo que Grenouille vacilava em dividir os seus odores de peixe, de sal, de água, de algas, de frescor e assim por diante. Preferia deixar o cheiro do mar reunido, preservava-o como um todo na memória e o fruía indiviso. O aroma do mar agradava-lhe tanto que ele desejava recebê-lo um dia tão puro e sem mistura e em tal quantidade que nele pudesse embebedar-se. E mais tarde, ao ficar sabendo, através de narrativas, quão grande era o mar e que nele se podia navegar durante dias com navios sem ver terra alguma, nada mais o seduzia tanto quanto imaginar que estava num desses navios, lá em cima, na cesta da gávea, no mastro da frente, a voar aí dentro através do infinito aroma do mar, que, a rigor, nem era um aroma, mas um hálito, um sopro, o fim de todos os odores, e se desfazia de prazer nesse hálito." (O perfume, história de um assassino; Patrick Suskind)

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